RELATO DE PARTO POR UM PAI...
Por Flávio Brito
Em uma bela terça-feira agitada,
como de costume para um início de semana, logo após uma segunda-feira
turbulenta, eu recebo um telefonema por volta das 17:30 da linda e querida e
muito amada esposa, me informando o rompimento da bolsa para o nascimento da
nossa filha, mas com uma calma e paz interior que na minha pessoa não existia,
eu como de costume levei na brincadeira porque sou bastante descontraído e não
acredito em tudo que me falam de imediato assim. E como um bom decifrador de
voz que sou, percebi que ao continuarmos o assunto em questão, senti sua voz
tremula e séria ao mesmo tempo. Sendo assim, isso já não era mais uma
brincadeira e sim a mais pura verdade sobre o rompimento, a situação ficou um
pouco complica. Porque? Te explico: o pouco conhecimento que eu tinha sobre o
rompimento de bolsa e como pai de primeira viagem, já achei que a criança já
estava saindo e vindo ao mundo, o que eu fiz? Saí em desespero com uma velocidade
desenfreada e sem saber por onde iria, porque o caminho para casa era extenso e
o trânsito pesado, e a única coisa que eu pensava era andar a 200 km por hora
para que fosse possível eu ver minha filha nascer em casa. Mas no caminho fui
informado pela minha esposa que estava tranquilo que não precisava de pressa
pois ela precisa de mim vivo para receber nossa filha, então diminuí a
velocidade para 160km por hora, pois eu tinha pego a BR por ser o caminho mais
rápido, onde nesse momento para mim não existia radar, semáforo, rotatórias e até
mesmo veículos, era apenas eu e meu carro. Mas enfim, cheguei em casa e me
deparei com ela bem tranquila, tinha tomado banho estava arrumando sua roupa e
pediu calma, assim fiquei mais tranquilo e agradeci a Deus porque a bebê ainda
não tinha nascido e eu cheguei a tempo, e vivo! Fui tomar um banho também
esfriar a cabeça, porque nesse momento eu precisava respirar fundo e me
preparar, pois a aventura e adrenalina só estavam começando. Difícil acreditar,
mas foi isso mesmo que eu disse era apenas o começo.
Assim começou nossa jornada a
caminho da maternidade, eu precisava de velocidade, cuidado, atenção e muita
calma. Eu não sabia onde era a bendita maternidade e durante a gestação não
procurei saber para pegar o melhor caminho, então o grande, melhor e eterno
amigo GPS me levou com calma e pelo caminho mais rápido, serei grato à ele pelo
resto da minha vida. Te amo GPS.
Enfim, chegamos a maternidade. Estacionei
em cima da calçada, pois sempre foi meu sonho poder fazer isso, peguei as
coisas para o parto, desci com minha esposa e deixei o carro lá em cima, pois
esse era meu segundo sonho. Caminhamos até a recepção onde fomos atendidos por
um bicho preguiça, isso mesmo bicho preguiça! Aquela pessoa não era normal,
muito calma e lenta, enquanto minha esposa gemia de dor e eu gemia de
desespero, mas depois agradeci a paciência e tranquilidade, achei um “bichinho
bem treinado”. Não levem a mal! Digo no sentido de um profissional de ótima
qualidade, preparados para nos atender. O bicho preguiça foi a única coisa que
me veio na memória para relatar o momento que eu passava.
Até que nos direcionaram para uma
sala aonde a Dra. iria verificar a largura da perereca (rsrsr), conhecido pelas
pessoas normais por dilatação, procedimento que é feito para verificar se o
bebê estava chegando ou não.
Nesse momento alguns pensamentos
que eu tinha foram quebrados. Quais eram eles:
1º achei que a bebê iria nascer
em casa, eu chegando e ver ela toda cheia de sangue no sofá.
2º achei que ela nasceria no
caminho da maternidade dentro do carro, eu tirando ela com bombeiro.
3º achei que iria ver ela no
berçário depois do parto, por uma janela de vidro no meio de outros bebês.
4º que eu ficaria fora do parto
na expectativa, aguardando o médico me chamar para avisar que correu tudo bem e
ela nasceu.
5º que ficaria na sala de espera e
ouviria o choro dela de longe, saberia que ela tinha nascido.
6º entre outras bobeiras que
circulavam na minha mente.
Então fomos para a tão esperada
sala de parto, onde eu veria meus pensamentos de ilusão irem por água abaixo,
pois começaram os gritos de outras mulheres que ali estavam pelo mesmo motivo.
Assim começamos a jornada sem pensamentos de filme, sem ilusões, começamos a
viver a realidade.
Os gritos da minha esposa
começaram a tomar um volume mais alto e ela foi para o banheiro com a sua
doula, o melhor investimento já feito durante sua gestação, fica a dica. Onde
ela começou as nos orientar a passar calma a ela e as devidas orientações, onde
ela me passou a informação que eu teria que participar realmente do parto e
onde já me colocou uma roupa que a última pessoa a usar a roupa foi o King Kong
de tão grande, mas era obrigatório e o único tamanho disponível, tive que usar.
Uma pequena observação: Sala
fechada, não podia ligar o ar e eu estava passando um calor do inferno, sem
falar no nervosismo dos gritos. Mas
enfim, começamos o tão esperado parto!
Mari foi pra maca tentar e não
deu certo, depois ela foi para banqueta, a bendita baqueta!
Onde eu teria que abraçar ela por
trás e dar as minhas duas mãos a ela. Onde a Dra. auxiliava na medida que a
contração vinha, mandava ela respirar e fazer força, mas quem fazia era eu!
Não estava mais aguentando, eu
estava cansando junto. Eu estava quase jogando todas as minhas tripas pra fora
de tanta força. Eu sim fazia certo, ela não, porque essa bebê não saia!
Para ajudar mais ainda ela fez um
pequeno cocô, isso mesmo COCÔ! Não estava
fedido, estava podre gente! Uma sala fechada, suado e com um fedor que parecia
que só eu sentia, mas continuemos né, é fisiológico.
Ela começou a apertar minha mão nos
tempos da contração.
Nesse exato momento não sou eu
quem estou digitando, estou recebendo auxilio, pois não sinto mais meus dedos, eles
foram esmagados no parto! (kkk)
Entre tantas idas e vindas das
contrações, a Dra. teve uma ideia genial (ao ponto de vista dela), cortar uns
cabelos da bebê para mostrar que a cabeça já estava ali, que ela precisava
fazer mais força. Mas gente, foram mais minutos de força, pois aqueles cabelos só
podiam ser da perereca, porque essa criança não saia! Então, eu com a grande
experiência que tinha com parto pensei: o bebê está descendo, eu estou com a mão
em cima da barriga, então porque não empurrar para baixo quando ela fazia força
né!? Vai que ajuda! Então eu fiz, com as últimas forças que me restaram, foi
questão de minutos a bebê saiu, acredito que ela tenha saído mais pela minha
ajuda! (kkkk)
A coisa mais linda, mais bela e
divina que eu já presenciei: o nascimento daquele anjo na minha vida, que logo
foi colocada em nossos braços, aquele medo que me tomava, aquele cansaço que ambos
estavam já não existia mais. Fomos cobertos de felicidade sem limites de um
verdadeiro amor incondicional. A luta tinha acabado, os segundos de aflição,
momentos de tensão isso não importava mais, a atenção era somente da nossa
filha.
Eu como tinha dito, não queria
participar de nada, mas a vontade da Mari era que eu cortasse o cordão
umbilical, e como eu já tinha passado por tudo, já estava anestesiado de gritos
e dores, não tinha mais nada a perder. Peguei a tesoura nas mãos e fui fazer o
desejo de minha esposa com a criança ainda nos braços. Tive um pouco de
dificuldade, porque a tesoura estava cega e o cordão era super duro dei aquela
bela mastigada várias vezes até cortar (kkkk).
Foi um momento único e especial,
um momento que passei e será guardado com muito carinho e amor, uma grande
história que contarei para todos que quiserem ouvir, pois isso foi um
aprendizado muito grande, nada aconteceu como eu pensava, mas tudo saiu
conforme os planos de Deus, tudo no seu tempo, no seu devido local.
E agora era curtir nossa pequena,
dar aquele amor paternal e maternal, era cuidar os mínimos detalhes de tudo que
corria a nossa volta, porque não éramos apenas 2 e sim 3.
Fomos para o quarto e nesse
momento eu só queria fechar os olhos e agradecer, lógico que queria dormir
também, pois eu estava exausto, mas com a certeza que tudo correu bem, que tudo
estava ótimo, todos os pensamentos que acreditei ser não se realizaram como nos
contos de fadas, mas que passaria tudo novamente, pois a experiência adquirida
e o contato imediato com ela não tem explicação.
Esse foi o meu relato, a minha história. Nesse
exato momento estou em prantos, mas ao mesmo tempo sorrindo, porque nesse filme
que passou na minha vida, eu poderia repetir várias e várias vezes, pois foi
ali que eu conheci o amor de um pai pra um filho, o verdadeiro amor
incondicional de se doar de alma e coraç
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