domingo, 14 de agosto de 2016

RELATO DE PARTO POR UM PAI...
Por Flávio Brito


Em uma bela terça-feira agitada, como de costume para um início de semana, logo após uma segunda-feira turbulenta, eu recebo um telefonema por volta das 17:30 da linda e querida e muito amada esposa, me informando o rompimento da bolsa para o nascimento da nossa filha, mas com uma calma e paz interior que na minha pessoa não existia, eu como de costume levei na brincadeira porque sou bastante descontraído e não acredito em tudo que me falam de imediato assim. E como um bom decifrador de voz que sou, percebi que ao continuarmos o assunto em questão, senti sua voz tremula e séria ao mesmo tempo. Sendo assim, isso já não era mais uma brincadeira e sim a mais pura verdade sobre o rompimento, a situação ficou um pouco complica. Porque? Te explico: o pouco conhecimento que eu tinha sobre o rompimento de bolsa e como pai de primeira viagem, já achei que a criança já estava saindo e vindo ao mundo, o que eu fiz? Saí em desespero com uma velocidade desenfreada e sem saber por onde iria, porque o caminho para casa era extenso e o trânsito pesado, e a única coisa que eu pensava era andar a 200 km por hora para que fosse possível eu ver minha filha nascer em casa. Mas no caminho fui informado pela minha esposa que estava tranquilo que não precisava de pressa pois ela precisa de mim vivo para receber nossa filha, então diminuí a velocidade para 160km por hora, pois eu tinha pego a BR por ser o caminho mais rápido, onde nesse momento para mim não existia radar, semáforo, rotatórias e até mesmo veículos, era apenas eu e meu carro. Mas enfim, cheguei em casa e me deparei com ela bem tranquila, tinha tomado banho estava arrumando sua roupa e pediu calma, assim fiquei mais tranquilo e agradeci a Deus porque a bebê ainda não tinha nascido e eu cheguei a tempo, e vivo! Fui tomar um banho também esfriar a cabeça, porque nesse momento eu precisava respirar fundo e me preparar, pois a aventura e adrenalina só estavam começando. Difícil acreditar, mas foi isso mesmo que eu disse era apenas o começo.
Assim começou nossa jornada a caminho da maternidade, eu precisava de velocidade, cuidado, atenção e muita calma. Eu não sabia onde era a bendita maternidade e durante a gestação não procurei saber para pegar o melhor caminho, então o grande, melhor e eterno amigo GPS me levou com calma e pelo caminho mais rápido, serei grato à ele pelo resto da minha vida. Te amo GPS.
Enfim, chegamos a maternidade. Estacionei em cima da calçada, pois sempre foi meu sonho poder fazer isso, peguei as coisas para o parto, desci com minha esposa e deixei o carro lá em cima, pois esse era meu segundo sonho. Caminhamos até a recepção onde fomos atendidos por um bicho preguiça, isso mesmo bicho preguiça! Aquela pessoa não era normal, muito calma e lenta, enquanto minha esposa gemia de dor e eu gemia de desespero, mas depois agradeci a paciência e tranquilidade, achei um “bichinho bem treinado”. Não levem a mal! Digo no sentido de um profissional de ótima qualidade, preparados para nos atender. O bicho preguiça foi a única coisa que me veio na memória para relatar o momento que eu passava.
Até que nos direcionaram para uma sala aonde a Dra. iria verificar a largura da perereca (rsrsr), conhecido pelas pessoas normais por dilatação, procedimento que é feito para verificar se o bebê estava chegando ou não.
Nesse momento alguns pensamentos que eu tinha foram quebrados. Quais eram eles:
1º achei que a bebê iria nascer em casa, eu chegando e ver ela toda cheia de sangue no sofá.
2º achei que ela nasceria no caminho da maternidade dentro do carro, eu tirando ela com bombeiro.
3º achei que iria ver ela no berçário depois do parto, por uma janela de vidro no meio de outros bebês.
4º que eu ficaria fora do parto na expectativa, aguardando o médico me chamar para avisar que correu tudo bem e ela nasceu.
5º que ficaria na sala de espera e ouviria o choro dela de longe, saberia que ela tinha nascido.
6º entre outras bobeiras que circulavam na minha mente.
Então fomos para a tão esperada sala de parto, onde eu veria meus pensamentos de ilusão irem por água abaixo, pois começaram os gritos de outras mulheres que ali estavam pelo mesmo motivo. Assim começamos a jornada sem pensamentos de filme, sem ilusões, começamos a viver a realidade.
Os gritos da minha esposa começaram a tomar um volume mais alto e ela foi para o banheiro com a sua doula, o melhor investimento já feito durante sua gestação, fica a dica. Onde ela começou as nos orientar a passar calma a ela e as devidas orientações, onde ela me passou a informação que eu teria que participar realmente do parto e onde já me colocou uma roupa que a última pessoa a usar a roupa foi o King Kong de tão grande, mas era obrigatório e o único tamanho disponível, tive que usar.
Uma pequena observação: Sala fechada, não podia ligar o ar e eu estava passando um calor do inferno, sem falar no nervosismo dos gritos.  Mas enfim, começamos o tão esperado parto!
Mari foi pra maca tentar e não deu certo, depois ela foi para banqueta, a bendita baqueta!
Onde eu teria que abraçar ela por trás e dar as minhas duas mãos a ela. Onde a Dra. auxiliava na medida que a contração vinha, mandava ela respirar e fazer força, mas quem fazia era eu!
Não estava mais aguentando, eu estava cansando junto. Eu estava quase jogando todas as minhas tripas pra fora de tanta força. Eu sim fazia certo, ela não, porque essa bebê não saia!
Para ajudar mais ainda ela fez um pequeno cocô, isso mesmo COCÔ!  Não estava fedido, estava podre gente! Uma sala fechada, suado e com um fedor que parecia que só eu sentia, mas continuemos né, é fisiológico.
Ela começou a apertar minha mão nos tempos da contração.
Nesse exato momento não sou eu quem estou digitando, estou recebendo auxilio, pois não sinto mais meus dedos, eles foram esmagados no parto! (kkk)
Entre tantas idas e vindas das contrações, a Dra. teve uma ideia genial (ao ponto de vista dela), cortar uns cabelos da bebê para mostrar que a cabeça já estava ali, que ela precisava fazer mais força. Mas gente, foram mais minutos de força, pois aqueles cabelos só podiam ser da perereca, porque essa criança não saia! Então, eu com a grande experiência que tinha com parto pensei: o bebê está descendo, eu estou com a mão em cima da barriga, então porque não empurrar para baixo quando ela fazia força né!? Vai que ajuda! Então eu fiz, com as últimas forças que me restaram, foi questão de minutos a bebê saiu, acredito que ela tenha saído mais pela minha ajuda! (kkkk)
A coisa mais linda, mais bela e divina que eu já presenciei: o nascimento daquele anjo na minha vida, que logo foi colocada em nossos braços, aquele medo que me tomava, aquele cansaço que ambos estavam já não existia mais. Fomos cobertos de felicidade sem limites de um verdadeiro amor incondicional. A luta tinha acabado, os segundos de aflição, momentos de tensão isso não importava mais, a atenção era somente da nossa filha.
Eu como tinha dito, não queria participar de nada, mas a vontade da Mari era que eu cortasse o cordão umbilical, e como eu já tinha passado por tudo, já estava anestesiado de gritos e dores, não tinha mais nada a perder. Peguei a tesoura nas mãos e fui fazer o desejo de minha esposa com a criança ainda nos braços. Tive um pouco de dificuldade, porque a tesoura estava cega e o cordão era super duro dei aquela bela mastigada várias vezes até cortar (kkkk).
Foi um momento único e especial, um momento que passei e será guardado com muito carinho e amor, uma grande história que contarei para todos que quiserem ouvir, pois isso foi um aprendizado muito grande, nada aconteceu como eu pensava, mas tudo saiu conforme os planos de Deus, tudo no seu tempo, no seu devido local.
E agora era curtir nossa pequena, dar aquele amor paternal e maternal, era cuidar os mínimos detalhes de tudo que corria a nossa volta, porque não éramos apenas 2 e sim 3.
Fomos para o quarto e nesse momento eu só queria fechar os olhos e agradecer, lógico que queria dormir também, pois eu estava exausto, mas com a certeza que tudo correu bem, que tudo estava ótimo, todos os pensamentos que acreditei ser não se realizaram como nos contos de fadas, mas que passaria tudo novamente, pois a experiência adquirida e o contato imediato com ela não tem explicação.
Esse foi o meu relato, a minha história. Nesse exato momento estou em prantos, mas ao mesmo tempo sorrindo, porque nesse filme que passou na minha vida, eu poderia repetir várias e várias vezes, pois foi ali que eu conheci o amor de um pai pra um filho, o verdadeiro amor incondicional de se doar de alma e coraç

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