Alice já completou um mês de vida e como presente, pra mim e pra ela, resolvi registrar em palavras como foi seu nascimento.
Começo falando sobre a escolha do tipo de parto, esta foi por grande parte influenciada pela experiência positiva da minha mãe, ela pariu três filhos e sempre me incentivou a ter o parto normal, além disso, por ser enfermeira não poderia ignorar as evidências científicas que comprovam ser essa a melhor forma de nascer.
Mas da gravidez até o parto o caminho é longo, no meu caso durou exatas 40 semanas e três dias, e aqui começa a parte mais interessante da história.
Na véspera do parto, uma sexta feira, eu não consegui dormir, me sentia muito cansada e insegura, não aguentava mais a “espera”. Afinal, eu tinha feito vários planos como engordar só 10Kg e engordei 18Kg, imaginei que Alice nasceria com 38 semanas como aconteceu com as gestações de minha mãe e já havia se passado mais duas e eu não sentia nada, enfim, acordei decidida a ir conversar com meu médico e sair com a data da cesárea agendada.
Cheguei ao consultório do Dr Wilson às 8h e solicitei um encaixe. A secretária me falou que tudo bem, no entanto, eu deveria aguardar, pois ele atenderia primeiro as pacientes agendadas. Foram 4 horas de espera e reflexão, neste período eu rezava pedindo a Deus e a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que me ajudasse e que, ao sair do consultório, eu tivesse uma resposta.
Na verdade eu não queria arrancar Alice de mim, sempre quis que ela escolhesse o dia do seu aniversário e viesse ao mundo quando estivesse pronta, mas eu já estava com 37 anos e pensava que talvez meu corpo não funcionasse direito.
Finalmente chegou a hora de conversar com o médico, logo ao entrar meus olhos já estavam cheios de lágrimas, ele veio ao meu encontro e me recebeu com um abraço, conversamos por meia hora, expus meus medos e ele os refutava um a um. Pacientemente me mostrou um desenho da Pixar onde um velinho jogava xadrez com ele mesmo e, quando percebeu que iria perder ele começou a roubar, dele mesmo. Foi aí que percebi o que eu estava fazendo comigo, e ao me examinar o Doutor falou: “já temos 2 cm de dilatação”, eu arregalei os olhos, como descrente no fato, e ele imediatamente respondeu: “eu não estou mentindo” e completou “se você quiser saímos daqui agora e vamos direto para o hospital fazer a cesárea, mas se você me permite dar uma opinião eu aguardaria mais um pouco”. Sei que a maioria dos obstetras se aproveitaria deste momento de fragilidade e me induziriam a cesárea, até porque minha pressão estava no limite, mas o Dr Wilson foi um anjo que soube diminuir minha ansiedade e me conduzir a tomada de decisão correta, aguardar mais um pouco. Neste momento eu falo que nasceu a mãe.
A partir daí minha tarde foi bem agitada, fui ao salão fazer as unhas, fiz drenagem corporal e no início da noite perdi o tampão, então logo pensei: o Doutor falou a verdade. À noite quando fui tomar banho começou a vazar colostro das mamas, fiquei animada.
Dormi tranquilamente até as 01:30h da madrugada, quando acordei com muita vontade de evacuar, sintoma totalmente atípico pois meu intestino é bem regular. Fui e voltei do banheiro mais umas três vezes, a vontade não passava, mas não havia mais resíduos. Começaram as contrações, acordei meu marido (Rodrigo) para marcar no dispositivo do celular a quantidade de contrações, elas estavam de 7 em 7 minutos bem ritmadas. Fui tomar banho, estender roupa, fiquei andando pelo apartamento até umas 4:00h, quando liguei para o Doutor avisando que iria para maternidade, pelo menos para ser avaliada pois as contrações estavam de 5 em 5 minutos já fazia pelo menos 1 hora. Desci os 6 andares de escada, fiquei com medo de ficar presa no elevador.
Cheguei ao hospital umas 4:30h, na primeira avaliação por volta das 5:00h estava com contrações de 3 em 3 minutos e cerca de 4 cm de dilatação, pedi ao marido para avisar minha doula (Fabrina).
Eu precisava ir ao banheiro novamente, assim que levantei da maca a bolsa rompeu, quando voltei do banheiro minhas contrações já estavam de 2 em 2 minutos e já tinha 7 cm de dilatação, então já fui encaminhada para sala de parto.
A partir daí as dores se intensificaram, eu não me lembro muito do que aconteceu ao meu redor, pois eu passei grande parte do tempo aos gritos ou rezando, quase sempre de olhos fechados agarrada ao meu marido. Lembro-me de ter pedido analgesia e o Doutor calmamente me “enrolou”, acredito que por perceber que os métodos de analgesia utilizados pela Fabrina (massagens e exercícios na bola), estavam fazendo efeito. Quando cheguei a 10 cm de dilatação me senti muito cansada, pedi para dormir, acreditam? Fui me deitar, mas o incomodo era maior nesta posição, as contrações não davam trégua, foram idas e vindas para o banquinho de parto vertical. Enfim, quando aprendi a canalizar a energia vocal na expulsão e fazer a tal da força comprida, Alice nasceu, eram 8:50h. Chegou linda e saudável e cerca de um minuto depois minha mãe entrou na sala de parto a procura de informações, neste momento ela viu Alice em meus braços ainda ligada pelo cordão umbilical. Foi o primeiro encontro das três gerações, eu agradecia a Deus e falava: “mãe eu consegui, eu consegui”.
Meu parto foi natural, sem nenhuma intervenção, como eu sempre sonhei. Quando Alice nasceu o ar condicionado da sala estava desligado e a iluminação foi diminuída, tudo para tornar sua chegada ainda mais acolhedora. Agradeço a Deus pelo presente da vida, ao meu marido pela paciência, companheirismo e amor, a minha mãe por ser meu modelo e por me encorajar sempre, a Fabrina pelo apoio e massagens incríveis, sem ela certamente o trabalho de parto se tornaria longo e muito doloroso e ao Dr Wilson Ayach pelo conforto, sabedoria e extrema competência profissional. Com certeza todas estas pessoas serão inesquecíveis, pois participaram de um dos momentos mais felizes da minha vida.
Fotos de arquivo pessoal e autorizada a postagem.